Identidade e categorias

Galego e português, umha ou duas línguas?

É opinável. Trata-se de umha questom social, nom filológica, e quando entramos no terreno do humano, entramos no terreno da opiniom.

De um ponto de vista histórico, no noroeste da península (Galiza e norte de Portugal) nasceu umha língua que avançou para sul até o Algarve e daí espalhou-se polos oceanos. Ocorreu que as três principais variedades seguírom destinos diferentes. A galega, em contraste com a de Portugal ou o Brasil, nom se transformou na língua social e nacional dos galegos, ocupando esse lugar o castelhano.

De um ponto de vista social, as variedades de Portugal e do Brasil nom som assumidas e utilizadas pola maioria dos galegos e das galegas como pertencentes ao nosso património lingüístico, em parte pola escassa vitalidade social da variedade galega, em parte polo ideário espalhado polo galego ilg-rag. Desse mesmo ponto de vista social, a variedade galega é sentida e vivida como dependente a respeito da língua castelhana.

Estamos no lugar em que estamos. Ora, queremos ficar aqui ou queremos avançar? Essa é a pergunta que nos temos que fazer.

É o galego um dialeto do português?

Para nós, galego e português som duas expressons da mesma língua. Chamá-la de umha forma ou outra é umha questom de nomenclatura.

Quando umha língua tem certa extensom geográfica ou está presente em vários estados, costumam existir diferentes variantes com traços peculiares. A nossa língua, que na Galiza é chamada de galego e que recebe internacionalmente o nome de português, tem diferentes variantes, e cada umha delas realiza-se de umha forma diferente. De facto, nom falam da mesma forma umha pessoa da Costa da Morte, de Lisboa, da Madeira, de Salvador de Bahia ou de Luanda. Cada umha delas usa diferentes variantes da nossa língua com o seu sabor peculiar. Todas elas som variantes da mesma língua, ou seja, dialetos. Por outras palavras, o galego é o português da Galiza da mesma forma que o português é o galego de Portugal.

Para aprofundar sobre as variantes galego-portuguesas da Europa: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/biblioteca/novaproposta.pdf

Eu nom entendo o português. Como vai ser a mesma língua?

Se ouvires os seguintes áudios, poderás comprovar como a questom da intercompreensom é um tanto relativa.

  1. Português padrom de Portugal
  2. Castro Laboreiro no norte de Portugal
  3. Lóvios no sul da Galiza
  4. Maçaricos na Costa da Morte
  5. Avanha perto de Santiago
  6. Castelhano padrom de Espanha

As gravaçons permitem observar um contínuo que vai desde o padrom lusitano até o castelhano padrom (de Espanha) usados nos meios de comunicaçom atuais, passando por diferentes variedades de galego-português. Facilmente se observa que o galego-português rural da Galiza (3,4,5) está mais próximo de algumhas variedades do galego-português rural de Portugal (2) que de certas variedades do galego urbano (6). No entanto, provavelmente, boa parte dos urbanitas galegos tenhem menos dificuldade para entender este galego castelhanizado do que a língua de muitas das nossas aldeias.

Na realidade a intercompreensom no primeiro contacto nom serve de base para afirmar que duas variedades sejam ou nom a mesma língua. Sirvam estes exemplos.

Se por português entendemos as outras variantes da nossa língua, nomeadamente a de Portugal e do Brasil, a dificuldade da compreensom deriva de dous factos:

  1. O grau de castelhanizaçom da nossa variedade e das nossas falas particulares. Muitas vezes usamos palavras castelhanas onde eles usam palavras genuínas.
  2. O grau de contacto escrito e oral. Toda variedade diferente da própria tem um sabor e umha música peculiar. Familiarizar-se com ela exige doses de contato.

De média, um cidadao/á da Galiza tem um contacto sensivelmente maior com os diferentes sabores do castelhano do que com variantes da língua da Galiza. Para além de esperar por medidas institucionais, é bem melhor alterar isto individualmente, quer através do contacto pessoal quer através dos produtos emanados das sociedades em questom: textos, música, audiovisual, internet…

Para escrever reintegrado é preciso muito esforço, é quase como aprender umha língua diferente...

O esforço relativo tem a ver com que o código ortográfico em que fomos educados maioritariamente é o do castelhano. Devemos perguntar-no se vale a pena fazer o esforço de aprender outro código e a resposta é positiva porque o reintegracionismo é mui rentável, individual e socialmente.

Umha das vantagens do galego Ilg-Rag a respeito do galego-português é que é mais fácil. A natureza da sua maior facilidade assenta em dous factos:

  1. Está muito mais próximo do castelhano.
  2. A quase totalidade dos galegos e das galegas fomos alfabetizados em castelhano.

O galego reintegrado ou português da Galiza, ao ter umha dose de castelhano mínima e grandes doses de formas genuínas, requer umha aprendizagem, a mesma aprendizagem que exige aprendermos umha língua diferente do castelhano com a diferença da familiaridade, ao tratar-se da língua própria da Galiza.

É interessante notar que o ponto de partida nom é o mesmo para todas as pessoas. Aquelas com um galego mais genuíno e/ou com contacto com falantes de outros países e habituadas a utilizar os seus produtos terám a maior parte do caminho feito.

Um dos nossos objetivos como sociedade é que seja o sistema educativo o que ensine a galegas e galegos a língua portuguesa e o nosso governo o que promova os relacionamentos humanos e culturais com os outros países que falam a nossa língua. Por enquanto, um pouco de estudo nom fai mal a ninguém e hoje existem formas entretidas de aprender

Livros para aprender:


Do Ñ para o NH




Manual Galego de Língua e Estilo

Manual de Iniciaçom à Língua Galega


Manual de Galego Científico

Umha naçom, umha língua?

Se revisamos o mapa linguístico do mundo, logo nos aperceberemos de que a equaçom 1 língua = 1 naçom é umha exceçom. Sirvam alguns exemplos mais ou menos conhecidos para certificar esta afirmaçom:

  • O português é língua oficial e/ou nacional em 10 estados (Brasil, Portugal, Angola…)
  • O castelhano é língua oficial e/ou nacional em 21 estados. (México, Argentina, Espanha…)
  • O árabe é língua oficial e/ou nacional em 29 estados. (Iraque, Sudám, Marrocos…)
  • O alemám é língua oficial e/ou nacional em 10 estados. (Alemanha, Áustria, Suíça…)
  • O francês é língua oficial e/ou nacional em 23 estados. (França, Canadá, Madagáscar…)
  • O inglês é língua oficial e/ou nacional em 53 países. (EUA, Austrália, África do Sul…)

Por outras palavras, países imensos como o Brasil ou os Estados Unidos da América compartilham língua nacional com países de dimensões bem mais reduzidas como Portugal ou Inglaterra. Portanto, ter o monopólio de umha língua nom é sinónimo de mais ou menos naçom.

A questom realmente é outra: qual a melhor estratégia para criar umha língua nacional da Galiza tomando como base os falares galegos? Se temos em conta que:

  1. O referente de oposiçom é o castelhano, que é a língua que está a substituir a nossa.
  2. O português é uma variante da nossa língua que tivo êxito tornando-se língua nacional de vários países.

O mais eficaz parece ser criarmos um modelo de língua o mais genuíno possível (a respeito do castelhano) tomando como base o português de Portugal e do Brasil.

Se o galego e o português som a mesma língua, que nome lhe damos?

Na Galiza a nossa língua recebe o nome de galego e internacionalmente o nome de português. A questom seria, devemos na Galiza utilizar unicamente a denominaçom de galego ou alternar esta com o de português ou português da Galiza?

Som numerosas as línguas que som oficiais em vários países e na maioria dos casos existe umha única denominaçom: inglês, francês, árabe ou suaíli.

As exceçons existentes, para além do caso particular do castelhano/espanhol, evidenciam um nexo comum que se vê nos casos do catalá/valenciano, romeno/moldavo, servo/croata ou ocitano/provençal. O que une estes casos e ainda outros é o facto de a unidade da língua estar em questom. Nos casos concretos do catalá/valenciano e romeno/moldavo, evidenciou-se ainda algo mais: umha estratégia do estado em que estava inserida a variedade mais fraca (Espanha e URSS respetivamente) promovendo a sua separaçom a respeito das variedades mais fortes.

Em conclusom, se o que se trata é de afirmar a unidade da nossa língua e elevar o seu estatuto, seria eficaz começar a utilizar a denominaçom de português e português da Galiza ao lado da de galego.

As instituiçons linguísticas da Galiza afirmam que o galego e o português som duas línguas diferentes, estám enganadas?

A ideia de o galego e o português serem línguas diferentes nom assenta numha base científica. A razom de ser dessa afirmaçom tem umha origem política, isto é, tem a ver com a ideia de língua, e portanto o projeto de País, que se defenda. A saúde do galego nunca foi umha prioridade dos nossos governos.

Estes, por agora, tenhem-se conformado com umha língua subordinada ao espanhol, e um dos principais indícios dessa subordinaçom é a consideraçom do galego como umha língua minoritária, limitada às fronteiras do Estado. De facto, a opiniom dessas instituiçons lingüísticas podia ter sido outra, se nos anos 80 tivessem triunfado as ideias do galeguismo anterior a 1936. Para este galeguismo, o galego nom era umha língua minoritária: tinha muitas outras variantes espalhadas polo mundo com as quais devia relacionar-se, para fortalecer-se sem renunciar a nengumha das suas peculiaridades.

As pessoas teriam que ir a Portugal aprender o galego?

O galego é a língua da Galiza e o melhor lugar para a aprender é a própria Galiza. Ainda existem núcleos mui fortes de galego-falantes que preservam a língua na sua forma mais genuína e devemos aproveitá-los e usá-los como modelo para construir o galego moderno.

No entanto, devemos ter em conta que a nossa língua na Galiza está a sofrer um avançado processo de substituiçom lingüística enquanto em Portugal ou no Brasil nom acontece tal. Por isso, o conhecimento em profundidade das particularidades e variantes lingüísticas de outros países de língua portuguesa e o seu uso podem também ser de muita utilidade para fortalecer as nossas falas. Igualmente, toda interaçom com os produtos culturais e, de todo o tipo, que emanam das sociedades portuguesa, brasileira… vai vir em beneficio de um galego mais genuíno e menos castelhanizado.

Sendo umha língua minoritária, o galego é tam importante como qualquer língua falada por centos de milhons de falantes...

Todas as línguas do mundo deveriam merecer exatamente o mesmo respeito; as pessoas reintegracionistas, em geral, caraterizam-se por estarem especialmente sensibilizadas com o porvir do galego, e normalmente estám intensamente implicadas na defesa das línguas em situaçom minorizada.

O que acontece é que nós nom pensamos que o galego seja umha língua pequena, nem minoritária, e portanto parece-nos ilógico isolar-se do mundo quando nom existe nisso nengumha vantagem. Já que temos a sorte de contar com umha língua que, apesar de minorizada na Galiza, conseguiu desenvolver-se plenamente noutros estados, aproveitemos os recursos que daí se derivam: aproveitemos a possibilidade de viver em galego muito mais.

Queredes substituir o colonialismo madrileno polo lisboeta?

O reintegracionista médio é contra todo tipo de colonialismos.

Na Galiza está a desenvolver-se um processo de substituiçom lingüística em que a nossa língua (A) está sendo suplantada por umha outra (B), que é a oficial em todo o Reino de Espanha. A estratégia reintegracionista nom pode substituir A por B, como está a fazer o castelhano, porque a língua de Portugal e do Brasil é a mesma que a da Galiza com os seus sabores particulares, seriam portanto (Á).

O que se trata é de construir um formato de língua nas coordenadas do nosso sistema lingüístico e nom nas coordenadas de umha outra língua que, por acaso, está a substituir a nossa. O que se trata é de preencher as nossas carências internamente com Á e nom externamente com B.

Seja como for, os galegos e as galegas nunca falaremos como os naturais de Lisboa. O que nom está tam claro é se acabaremos sendo monolingues como em Madrid.

Na Galiza e em Portugal nom falamos igual

Ainda bem, se assim fosse seria um caso difícil de explicar e talvez tivéssemos que indagar nas ciências ocultas.

Quando umha língua se estende por um território, as formas de falá-la mudam de um espaço para outro. No Brasil e em Portugal fala-se a mesma língua bem como no México e na Argentina, e, ao mesmo tempo, nom “falam igual”. De facto, o português de Portugal é de difícil compreensom para o brasileiro médio, o que nom sucede à inversa. Isto ocorre em todas as línguas com um mínimo de extensom.

As diferenças dialetais entre diferentes variedades afetam fonética, gramática, léxico e pragmática e som consubstanciais a qualquer língua com umha extensom mínima.

O que fai que duas variedades sejam ou nom a mesma língua nom é facto de serem iguais nem sequer parecidas como constatam o caso do alemám, o chinês ou o árabe por umha parte ou o servo-croata pola outra. Nos primeiros casos existem variantes que nom compreensíveis entre si e no caso do servo-croata, polo contrário, existe compreensibilidade mas estám-se a gestar várias línguas.

Ser a mesma língua é umha questom política, nom filológica, é social, nom formal.

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