Martinha Varela: «Cheguei ao galego extenso e útil graças a reintegracionistas simpáticos/as e atrativos/as»

Martinha Varela: «Cheguei ao galego extenso e útil graças a reintegracionistas simpáticos/as e atrativos/as»

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PGL - Martinha Varela, carvalhesa, é leitora de galego na França onde oferece diferentes óticas da nossa língua, detesta o “porque eu o digo” e seu pai lê o Novas da Galiza porque não foi educado para estrangeirizar o português.

PGL: Trabalhas na Universidade de Paris 3-Sorbonne Nouvelle. Recentemente publicámos uma interessante entrevista a Miguel Mendes, leitor em Lisboa. Sentiste-te refletida nalguma das suas respostas?

Martinha Varela: Eu parto duma situação bem diferente da do Miguel, já que eu dou aulas e organizo actividades de difusão cultural num país que não tem por língua oficial uma variedade da nossa língua.

PGL: Como focas o ensino do galego nas tuas aulas?

MV: Nas aulas eu ensino a norma oficial do galego mas evidentemente explico que existem outros jeitos de escrever a nossa língua e que de facto eu própria sou reintegracionista. Tento que as alunas e alunos conheçam a riqueza de sotaques da nossa língua, a situação sociolinguística da Galiza e que não tenham preconceitos em volta da língua. Por exemplo, em aulas tenho empregado textos escritos em diferentes normas do galego e músicas em diferentes variantes, como as interpretadas pelos “Meninos cantores” (09/11/2009). E, sobretudo, através das atividades extra-académicas de difusão cultural como a do mês de Janeiro deste ano.

PGL: Que tipo de alunos e alunas passam por elas?

MV: A maior parte das minhas alunas são estudantes do curso de espanhol- eu trabalho no departamento de Estudos Ibéricos e Latino-Americanos- e escolhem como opção o galego normalmente por terem ascendência galega, portuguesa ou espanhola mas tenho estudantes de diversas origens (Tunísia, Marrocos, Colômbia, Guadalupe...)

PGL: Agora mesmo estás de viagem com várias alunas da tua turma. Qual está a ser a sua receção da Galiza e da sua língua. Que chama a sua atenção?

MV: Se calhar era bom perguntar diretamente às alunas e aluno que vieram de viagem, mas acho que estão a adorar o país (comida, paisagem, gente...) e sou eu a que está desiludida com o pouco galego que estamos a ouvir. Elas estão muito consciencializadas com o uso do galego e falam sempre em galego nas ruas, lojas, bares...

PGL: És de Carvalho, uma das vilas onde a nossa língua está mais naturalizada. Como vive uma galego-falante em Carvalho?

MV: Em Carvalho o galego é a língua ambiental, a que escutas nas ruas, nos comércios, no pátio da escola, nos bares... mas a minha história com o galego é diferente da das minhas irmãs (mais novas do que eu) Toda a minha família é galego-falante (paleo) mas todas as minhas amigas de Carvalho são neo-falantes, o que faz com que eu não fale o mesmo galego que a minha família; por exemplo, eu só emprego a gheada na casa e nunca com as minhas amigas. As minhas irmãs e todas as pessoas da minha família empregam sempre a gheada já que todas as suas amigas também o fazem. De qualquer jeito, o melhor de Carvalho é o pão, as batatas e as sete pessoas que em 1995, com 14 anos, falavam castelhano e três anos depois eram monolingües em galego, língua com que atualmente se comunicam com as pessoas que as educaram em castelhano.

PGL: Que implicou a passagem pola universidade na tua biografia pessoal, na tua forma de focar a realidade circundante?

MV: Eu comecei a estudar Filologia Galega em 2000 porque era o curso que queria estudar desde o liceu ou mesmo antes, mas logo fiquei desiludida pela pouca qualidade dos docentes- os docentes do liceu eram bem melhores- e sobretudo pela perseguição contra estudantes reintegracionistas. No meu caso foi essa perseguição o que fez com que eu me interessasse por ver que era aquilo que se negava com tanta raiva e tão pouca argumentação. Sempre detestei o “porque não”, o “porque sim” e o “porque eu o digo”.

PGL: A imensa maioria de nós fomos educados como a nossa língua sendo uma realidade local. Como se deu em ti a passagem para uma visão mais ampla e rica?

MV: Foi nos primeiros anos do curso de Filologia Galega, enquanto o professorado negava que o galego fosse uma língua útil fora das fronteiras da Comunidade Autónoma Galega e do Val do Xalma na Estremadura. E, com certeza, graças a reintegracionistas simpáticos/as e atrativos/as e a isolacionistas chatos/as.

PGL: Tu és docente. Qual pensas ser a melhor tática para fazer ver os galegas e as galegas que a sua língua é extensa e útil?

MV: Eu acho que o melhor é fazê-lo de um jeito transversal, encontrar um tema que a pessoa goste e fazer-lhe perder os preconceitos sobre a língua: se a pessoa gosta de música- e toda a gente gosta- é bom fazer conhecer música lusófona para que veja que é quem de perceber as letras. O meu pai só estudou até os 9 anos e quando encontra um artigo que quer ler porque está interessado no tema é quem de lê-lo na norma empregue pelo Novas da Galiza, por exemplo, e só me pergunta duas ou três coisitas e isso é porque ele não tem preconceitos sobre a língua, o que é básico para perceber. Eu faço BD e uma das minhas alunas tinha muita curiosidade em ler uma BD na que saía ela, o que fez com que percebesse tudo o que eu escrevi em português embora seja aluna do primeiro ano de galego...

PGL: As minhas fontes dizem-me que acreditas nas redes sociais e és uma magnífica conetora “interradial”. Concordas?

MV: Acredito que as redes sociais são muito importantes e mais no caso das línguas e culturas minorizadas. Gostava que fosse verdade o de ser uma boa conetora interradial.

PGL: Que era AGAL para ti, que é o que te motivou a te tornares sócia e que esperas da associaçom?

MV: Conheço a Associaçom Galega da Língua desde o 2000 ou 2001, sempre simpatizei mas não me fiz sócia porque sempre estava sem um tostão. Mas agora que a SXPL me paga quando bem acha, já posso tornar-me sócia. Espero que ser sócia da AGAL me ajude a manter o contacto com a realidade linguística, política e cultural do país agora que vivo longe.

 

CONHECENDO MARTINHA VARELA

  • Um sítio web: O vosso!
  • Um invento: O mooncup
  • Uma música: Babel de Aline Frazão
  • Um livro: Lueji de Pepetela
  • Um facto histórico: A revolução dos cravos
  • Um prato na mesa: Bacalhau com natas
  • Um desporto: Natação
  • Um filme: Gato preto, gato branco
  • Uma maravilha: A praia de Seaia e os montes do Courel
  • Além de galega: MUNDIAL

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