Eva Xanim: “Sou galego-falante porque lerio, sinto, rio, penso, sonho em galego. Sou reintegrata porque gosto de grafias tradicionais e internacionais, porque quero um futuro em galego”

Eva Xanim: “Sou galego-falante porque lerio, sinto, rio, penso, sonho em galego. Sou reintegrata porque gosto de grafias tradicionais e internacionais, porque quero um futuro em galego”

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“as mesmas vistas nunca passam duas vezes” Miravalhes (1969 m) - Ancares.

Eva Xanim - opiniomEntrevistamos Eva Xanim (Návia de Suarna, Ancares), nova sócia da AGAL e colaboradora do PGL. Quase graduada em Língua e Literatura Galegas e Língua e Literatura Espanholas pola USC; escritora, ativista e participante em numerosos projetos literários, revistas e apresentações de livros. A investigação, a arte, a natureza e a língua são apenas algumas das suas paixões.

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– Fala-nos de ti: és poeta (boa), estudante de Filologia e tens interesse na literatura atual. Ecologista, defensora do rural, feminista… ?

Não sei se sou quem para definir-me com todas essas identidades mas tento fazer o que gosto, defender as ideias em que acredito; tento ser livre neste mundo de encadeamentos, neste país onde nos cosem os lábios com fios democratas.

“Olhada pícara”

“Olhada pícara”

Uma das minhas paixões é a poesia mas também a pintura, considero o corpo como uma arte subversiva de seu, feminista, de aí que goste dos despidos, das posses, das performances para as e os pintores criarem seus lenços.

Tampouco compreendo as reivindicações lilás sem o ecologismo, onde vai implicado sem dúvida a defensa do rural, de certos valores de respeito, de convivência com a natureza. E isto vai ligado também com a defensa da língua, uma língua que perviveu no seo tradicional, que tem uma identidade própria, uma cosmovisão determinada que faz evitarmos a subordinação.

Uma subordinação que está presente em moita da literatura atual, sobre tudo, de aquela que se apresenta no centro do cânon oficial; adoro mais as periferias pois sempre dão pontos de vista divergentes e plurais.

– Sem importar a tua formação interessa-nos a tua visão da língua na Galiza, a sociedade, no teu espaço social, familiar, vital. Ou mais simplesmente, por que és galego-falante e reintegrata?

Para mim fui uma experiencia e está a ser muito interessante, nomeadamente a nível familiar, porque constatei como da discordância e a desconformidade dum primeiro momento (“estás louca escrever agora em português”); passaram a se adaptarem de maneira imedita e sem nenhum problema à nova grafia. Foi uma forma de deitar o preconceito que muitas vezes se lhe atribui ao reintegracionismo de que é elitista, que a população não compreende porque supostamente é mui diferente da oralidade, etc. Eu quando ouvia isto sempre pensava, então um/a galeg@ não pudera estudar francês…

Sou galego-falante porque lerio, sinto, rio, penso, sonho em galego. Sou reintegrata porque gosto de grafias tradicionais e internacionais, porque quero um futuro em galego.

– Natural de Navia, num artigo publicado no teu blogue e no PGL indicavas como o teu galego dialetal casa melhor no português que na norma ILG, quando e como percebes isso claramente?

No momento em que entrei em contacto na EOI com a norma do Novo Acordo percebi que a maior parte dos traços do galego oriental que foram obviados para a construção da norma RAG-ILG eram mantidos no padrão do português. Foi como bater com uma pedra na cabeça e abrir uma brecha que tardaria três anos em curar; começaram assim as perguntas sem resposta, as conversas ortográficas com amig@s, as opiniões confusas, as leituras…

Vou contar uma pequena brincadeira, faz apenas um mês um professor da faculdade achegou-se a mim depois de uma aula e diz-me “Sabes que és uma lusista”, e eu “Como?”, “Sim, és uma lusista, as falas orientais semelham-se se calhar ainda mais a língua da outra beira do Miño”. Quando um profissional de língua que comunga com a Academia reconhece esta maridagem do galego em geral, e nomeadamente do galego oriental, com o português, verificas um bocado mais que a hipótese que lançavas através da tua perceção não era tão errada como muitas pessoas consideravam, ao assinalar-lhes esta como um dos motivos da mudança ortográfica.

Apresentação de Uma mãe tão punk no espaço da Ciranda

Apresentação de Uma mãe tão punk no espaço da Ciranda

– Interessam-nos ideias, perguntas, hesitações e respostas sobre estratégias para a língua. Por onde deve caminhar o reintegracionismo e/ou o movimento normalizador?

Acho que precisamente é pelo movimento normalizador por onde deve caminhar o reintegracionismo. As pessoas têm de se familiarizar com esta norma, com certeza as redes sociais são espaços fundamentais para este cometido mas nem só isso, as ruas, as associações, as iniciativas privadas podem paliar a ausência de informações em galego. É necessário vender a potencialidade do nosso idioma à sociedade, pois vivemos em um mundo onde o que importam são as línguas em tanto que instrumentos de comunicação (quantos mais falantes tiver mais útil vai ser).

O reintegracionismo tem que deixar de ser o galego impossível, para se converter no galego possível, tem que passar da opacidade à transparência, da periferia ao núcleo. Há um longo sendeiro que percorrer pelas estratégias de normalização mas aos poucos o reintegracionismo será quem de eliminar aos oponentes que axexam o assassinato da nossa língua.

 

– Como estudante de filologia na USC que pensas do ambiente filologico-académico? mudam as cousas com o tempo ou… ?

Não mudaram apenas… Segue a haver receio a falar do reintegracionismo nas aulas, e quando se fala ou bem é para assinalar que foi algo dos anos 70-80, e nega-se que exista a dia de hoje um movimento que continue a reivindicar estas ideias; ou bem é para deixar claro por parte de algum professor que ele não é reintegracionista pese a estar em desacordo com algumas escolhas da norma RAG-ILG.

Um exemplo que não deixa de ser curioso é que as recompilações de textos, os chamados corpus linguísticos, ferramentas fundamentais de trabalho para as pessoas que elaboram alguma investigação no eido filológico, não recolhem escritas de outra norma que não seja a da RAG-ILG, mais si admitem toda a produção anterior à esta. Do meu ponto de vista, não só se está a recusar parte da produção de textos em galego, senão que os trabalhos que são tirados de aí, vão ser parciais.

Porém, observo que cada vez há mais estudantado que acolhe o reintegracionismo, uns como praticantes dele e outros simplesmente como defensores do mesmo. É habitual quando se debate nas aulas sobre alguma questão de língua que a maioria do alunado não concorde com as ideias assentadas no ambiente filologico-académico e virem as suas posições cara a admissão da linha reintegracionista como uma opção mais a ter em conta.

Crític@s da minha vida santiaguesa

Crític@s da minha vida santiaguesa

– Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação? Que podes tu achegar a ela?

Há um cento de motivos que me motivaram a tornar sócia da AGAL, além de ser a única associação que apoia o movimento reintegracionista, é uma “nave espacial” aberta, dinâmica e participativa. Confesso que antes de entrar em contacto com pessoas que já militavam nestas ideias, tinha a concepção de a AGAL ser pouco menos que uma seita, mas conforme fui passando o tempo e fui conhecendo um bocado mais as atividades, os projetos e a via de trabalho da associação, namorei dela. É por isso que convido a todas as pessoas, leitoras e leitores da entrevista, a dar uma vista de olhos ao seu site, para verem as vantagens das que podem gozar de se aderirem a ela.

Da AGAL aguardo, sobre tudo, apoio para levar a cabo diferentes ideias que promovam ou dinamizem o reintegracionismo na vida quotidiana. De facto, já anda em marcha um projeto muito interessante que em breves verão à luz e que conta também com as forças doutras organizações, onde se pretende derrubar o pensamento de que a normativa ortográfica que defendemos é inacessível à população e coisa de uns poucos intelectuais. Aguardo, pois, da associação camaradagem para fazermos possível uma Galiza em galego diferente. E eu cá estou para achegar todo que puder em favor da AGAL e o reintegracionismo, os meus alentos são seus.

 – Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2030

Uma fotografia linguística onde não se falasse de normalização nem de normativização, onde não houvesse problemas a nível oral de transmissão intergeracional e a ortografia vigente olhasse cara à lusofonia; em definitiva, uma sociedade galega que tiver como língua primeira aquela de seu, sem preconceitos, sem prejuízos e potencializando a sua internacionalidade.

Pode que seja sonhadora mas não vejo factível dar discursos pessimistas, acho que só a adoção de atitudes positivas pode reverter a situação atual. São precisas muitas forças para atingir estes objetivos, mas ainda estamos a tempo de preservar a nossa forma de vê-la realidade, de mudar o porvir da nossa terra.

“as mesmas vistas nunca passam duas vezes” Miravalhes (1969 m) - Ancares.

“as mesmas vistas nunca passam duas vezes” Miravalhes (1969 m) – Ancares.

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Conhecendo Eva Xanim

Um sítio web: os blogues, aqueles onde se praticam artes subversivas, aqueles cujas palavras e imagens tenhem o poder de revirar o nosso statu quo.

Um invento: o capitalismo, a democracia, a igualdade, o meio ambientalismo, os direitos humanos…

Uma música: a que provoca a natureza com os seus silêncios, os seus chios, o movimento da folhagem, o vir dum rio, o rugir de um lobo, o bruar dos montes.

Um livro: com cheiros novos e não triviais.

Um facto histórico: os primeiros meses do ano 1936, tanto pela importância dos sucessos no eido político da Galiza como pelo nascimento de uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Um prato na mesa: o “caldo de verças”.

Um desporto: gosto de fazer desporto mas não dos desportos, gosto de consumir energias sem regulamentos estabelecidos de antemão.
Um filme: vejo a vida como um filme, fotogramas continuados onde há dor, paixão, tristura, felicidade, dramas, comicidade, cumplicidades, violência mas também olhadas vermelhas, verdes, lilás, laranjas.

Uma maravilha: a diversidade.

Além de galega: anti-mimética, não sou adaptável ao meio nem ao ambiente social, tampouco a realidade em que querem fazer-nos viver.

 

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