Jorge Pérez: «O galego-português é útil, que nos achega a outro mundo de possibilidades e, aliás, é natural para nós»

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PGL - Jorge Pérez é de Pantom e de aí vem a sua relação com a língua, de ser duma família labrega de aldeia. O seu contato com a estrategia reintegracionista produziu-se durante os seus anos universitários em Santiago e foi-se afiançando nalguma viagem a Europa onde tomou contato com gente lusofalante e recentemente numa viagem a Lisboa. É diplomado em Relações Laborais pela USC e fez vários cursos de ciências políticas.

És diplomado em Relações Laborais pela USC, qual é a situação da língua no teu setor?

Na altura em que eu trabalhei no setor, o qual não durou muito tempo, o que eu pude ver não foi muito bom. O castelhano goza de forte presença nos documentos e na comunicação dentro da empresa privada. Lembro de uma vez que estando de estágio do meu curso numa entidade, decidi redigir uns documentos em galego e os colegas que lá estavam pensavam que o responsável ia ficar zangado, mas finalmente não se passou nada. Ainda assim, chamou-me a atenção esse medo. É descritivo da situação atual da língua.

Moras em Ferreira de Pantom, existe um preconceito que associa o reintegracionismo e a Lusofonia à cidade e a neofalantes, que achas disto?

Do meu ponto de vista, uma coisa é a questão da grafia e outra muito diferente é a oral. Poderia-se falar desta maneira se não conhecermos a língua que fala a gente nas vilas e aldeias. Quando um fala com portugueses ou gente do espaço da lusofonia, quer viajando pelo mundo ou quer na Galiza, dá-se conta de que está a empregar a mesma língua e eles, a maioria das vezes, não reparam, mesmo, em que tu és galego. Desde criança, pude olhar um marcado preconceito social acerca do português, chegando a escutar, na minha zona, a palavra português ligada a conotações negativas. Considero que o galego dos neofalantes parece menos português do que o galego do falante materno, porque aquele por influxo do castelhano não consegue, por exemplo, diferenciar as vogais abertas ou fechadas entre outras muitas coisas que sim faz este último. Eu diria, mais bem, que acontece ao contrário.

Na tua comarca, há alguma iniciativa em defesa da língua?

A nossa comarca é uma comarca que está a sofrer um processo de despovoamento em grande escala por causa da falta de oportunidades laborais para a gente nova. Isto afeta tudo. Há certas organizações nacionais que trabalham em defesa da língua que sim têm alguma presença. Fraca, mas existe. Recentemente, um grupo de pessoas novas da comarca lançou um evento nas redes sociais e levou a cabo uma campanha para promover que a Xunta de Galicia permitisse o ensino de português na EOI de Monforte de Lemos. Pediu-se um número de pré-inscrições que foi atingido, mas finalmente a Xunta denegou a petição. É difícil promover iniciativas com pouca gente, mas, pelo menos, tenta-se.

Que tipo de trabalho se poderia fazer?

Acho que iniciativas como a ILP Valentim Paz Andrade seguem um bom caminho, termos mídia em galego,de um país em que a língua está normalizada seria um grande avanço para a normalização. É verdade que a TVG e a RG fizeram e fazem um grande labor, mas é apenas um canal entre outros muitos em castelhano e isso é insuficiente. Acho que, além disso, se poderia tentar introduzir nas escolas o ensino da língua, da literatura, e cultura portuguesas. Também é preciso procurar maneiras de fazer acessível material nesta língua para a gente poder utilizar. Vejo que a loja da AGAL está a funcionar muito bem e a ter bastante sucesso, mas, ainda assim, acho-a insuficiente.

Quando percebeste que o galego era mais do que te ensinaram na escola?

Eu falava galego antes de ir à escola. Lá foi quando eu entrei em contacto com o castelhano. Suponho que a coerção social leva muitas pessoas como eu a acabarem por padecer a diglossia. Lembro-me de ir, quando criança, ao médico com minha mãe e ela sempre mudava de língua para o castelhano, assim como noutras situações semelhantes, e não sei bem o porquê, mas lembro que aquilo me incomodava; não compreendia porque o fato de falar galego tinha de ser uma vergonha. Penso que por um lado me sentia desprezado. A escola só acentua a contradição interior dos meninos ante a sua língua materna e aquela que é do ensino; é uma contradição nada saudável.

Pensas que é difícil dar o passo de escrever em galego-português? Como se poderia facilitar esse trânsito?

Acho que é parecido com o processo de voltar a se alfabetizar, o qual não é fácil, porque um não tem o costume e exige muita vontade. Considero que a leitura em galego-português é essencial e para isso, a disponibilidade de material para a gente deve ser facilitada.

Na tua opinião, por onde deve caminhar a estratégia luso-brasileira para avançar na sua sociabilização?

Fazendo ver à gente que não é tempo perdido. Que o galego-português é útil, que nos achega a outro mundo de possibilidades e, aliás, é natural para nós.

Gostas de poesia e tens participado em diferentes bitacoras de rede como Desmembro. Que tipo de atividades se poderiam fazer neste âmbito para aproximar-nos à lusofonia?

Atualmente, a poesia é segundo muita gente um género na baixa. Eu gosto muito dela e funciona como uma terapia em muitas ocasiões. Vejo que o problema é que há muita gente que escreve e pouca capacidade já não de se fazer conhecer, mas de tecer rede. Seria interessante puxar por plataformas, já for na net ou no espaço físico; locais em que a poesia  em galego-português tivesse presença e se fizesse forte. Consta-me que há muita gente que escreve em blogues como o desmembro; toda essa capacidade criativa poderia juntar-se para fazê-la medrar.

Existe algum tipo de contato com poetas lusófonos?
O desmembro começou sendo um blogue no qual escrevia gente do Brasil, de Portugal e da Galiza. Mas, com o decorrer do tempo, apenas os galegos temos perseverado. Recentemente conheci algum poeta e escritor lusófono através de amigos e também graças à rede. Mas, como já sabemos, a rede tem as suas limitações geográficas importantes. Cheguei mesmo a ter um convite para participar em um recital em Lisboa há uns meses atrás; mas ficou ai, e não sei se poderá ser.

Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associar e que esperas da associação?

A minha visão da AGAL era e é a de um coletivo de pessoas que com poucos recursos e muita vontade trabalham para defender o que eles consideram a sua estratégia para a língua. Motivou-me a me associar o fato de eu ter viajado e tido experiências nas quais percebia que falava a mesma língua e que tinha muita relação cultural com gente da lusofonia. Pensei que associar-se era uma boa maneira de colaborar num projeto em que acredito, e de oferecer a minha humilde contribuição. Da AGAL, aguardo que consiga crescer pouco a pouco e assentar, ainda mais, o seu projeto para a língua.

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

Gostaria que as cidades tivessem mais presença da nossa língua do que elas têm atualmente. O interior possui cada vez menos peso demográfico no conjunto do país; o rural foi o grande conservador da língua durante muito tempo, mas o despovoamento obriga-me a pensar que já não poderá continuar a sê-lo por muito mais.

Conhecendo Jorge Pérez Árias

  • Um sítio web: www.amediavoz.com
  • Um invento: A música.
  • Umha música: Banderas Rotas de Labordeta
  • Um livro: Ficções de Jorge Luis Borges.
  • Um fato histórico: Aragão libertário durante a Guerra Civil.
  • Um prato na mesa: Batatas cozidas esmagadas com molho de tomate (de tomates da horta da minha casa).
  • Um desporto: Ciclismo.
  • Um filme: Qualquer de Scorsese ou Tarantino.
  • Uma maravilha: MAHMUD DARWISH, Moscas Verdes.
  • Além de galego/a: Apenas sei ser galego.

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