Gonzalo Pérez de Lis Castro: «A resistência explícita ou implícita à associação entre galego e português é mais patente, na minha experiência, em falantes de galego do que em falantes de castelhano»

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Gonzalo Pérez de Lis Castro é viguês e tornou-se galego-falante na universidade pontevedresa. Trabalha no departamento de botânica da USC e opta pola praticidade na hora de hora de divulgar a nossa estratégia para a língua.

Gonzalo nasceu em Vigo e tem 26 anos, variáveis que se costumam traduzir em que a tua língua materna foi o castelhano, não foi? Quando foram os teus primeiros contatos com o galego?

Sim, o meu lugar de nascimento é a cidade de Vigo. Como é habitual nesta cidade, medrei numa família onde o galego não formava parte da realidade diária nem de maneira ocasional. Todo o meu circulo social falou de sempre em castelhano. Deixando fora a matéria de galego na escola e a TV, a minha relação com o galego tornou-se muito mais próxima no começo dos meus estudos universitários em Ponte Vedra. Lá teve companheiros que falavam galego ao ser, na sua maioria, de procedência rural. Isto foi algo que em Vigo era quase inexistente.

Quando decides cruzar o rio e tornar-te galego-falante?

Durante os meus estudos universitários de Engenharia de Montes em Lugo a presença do galego nas minhas conversas foi cada vez mais habitual e ao acabar decidi tornar-me monolíngue em galego.

Desenvolves o teu trabalho como estudante predoutoral (FPU) no departamento de Botânica da USC. Qual a presença do galego no teu sector?

Na área de botânica da USC, quando menos no grupo de Lugo, é muito residual. De um total de quinze pessoas aproximadamente entre professorado, pessoal técnico e estudantes apenas duas ou três falamos galego. No entanto, o mais habitual é que a gente mudar de registro dependendo da língua a ser usada em cada conversa.

Gonzalo está integrado numa plataforma cidadã de Lugo, onde mora na atualidade, em defensa das pessoas a sofrerem um despejo da sua vivenda habitual. Que te motivou a fazer parte desta plataforma?

O meu primeiro contato com os movimentos sociais produz-se graças à minha participação ativa no movimento 15M de Lugo há mais de um ano. Recentemente, a necessidade de novas ações dirigidas a lutar contra aqueles que pretendem o desmantelamento das conquistas sociais e o aumento das desigualdades levou-nos a criar, em parceria com outros movimentos e assembleias de Lugo, uma plataforma para denunciar as práticas abusivas das entidades bancárias e defender às pessoas afetadas por um despejo da sua vivenda familiar.

Lembras em que momento preciso descobres que o galego é mais do que te transmitiram? Ou foi um processo gradual?

Pois não lembro um momento em concreto, acho que foi um processo gradual acontecido mesmo antes de ser falante de galego.

Levas um ano mais ou menos a escrever em galego-português. Que te animou a dar o passo. Como foi recebido polo teu círculo familiar e social?

Empregar o padrão internacional da minha língua na comunicação escrita era para mim o natural, mas foi depois a leitura de Do Ñ para o NH que vi possibilidades reais de o fazer. A respeito das reações, a mudança não foi muito bem vista no meu entorno. A grande maioria respeita, mas não compreende. Fora do entorno mais próximo houve reações do mais diverso com evidente predomínio do respeito. Contudo, algo do que estou a ficar surpreendido é que a resistência explicita ou implícita à associação entre galego e português é mais patente na minha experiência em falantes de galego do que em falantes de castelhano.

Por onde consideras que deve transitar a estratégia luso-brasileira para alcançar maior penetração social?

Em minha opinião a melhor estratégia é a da praticidade. Fugir de questões mais teóricas. Fazer ver o atrativo da aprendizagem de português pela sua utilidade a nível internacional deixando à gente descobrir por si mesma, sem agitar em excesso questões políticas ou sentimentos de pertença, que já virão depois. Acho que este é um bom momento porque se está a perceber a utilidade graças ao progresso econômico no Brasil.

Por exemplo, dizer que este curso 2012-2013 há mais de 100 pessoas procedentes do Brasil a cursarem estudos de engenharia no Campus de Lugo graças a bolsas de mobilidade daquele país. Isto, junto à queda no número de matriculados locais faz-me pensar na influência deste novo coletivo na realidade diária deste campus e dos seus estudantes a respeito da língua. Por não falar do interesse que podem ter os gestores em manter este fluxo de estudantes em cursos vindouros.

Por que te tornaste sócio da AGAL? Que esperas da tua associação?

A necessidade de colaborar na medida das minhas possibilidades num projeto que coincide com a minha ideia de qual deveria de ser a realidade linguística da Galiza. Não sei, eu prefiro fazer a pergunta inversa. Que espera a minha associação de mim?

Como gostarias que fosse a “fotografia linguística” da Galiza em 2020?

O galego como língua hegemônica da Galiza, integrado de maneira consciente no mundo da lusofonia. Logicamente, com presença de cultura e meios lusófonos na Galiza (no mundo editorial, rádio, TV, da música ou do teatro). Não desterrando em caso nenhum a aprendizagem de castelhano.

 

Conhecendo Gonzalo de Lis Castro:

Um sítio web: Instituto Geográfico Nacional e Meteogalicia

Um invento: as bridas e a internet.

Uma música: Oxalá te veja de Oquestrada.

Um livro: A Viaxe do Ser (M. Pérez de Lis).

Um facto histórico: A revolução neolítica.

Um prato na mesa: empanada de bacalhau.

Um desporto: correr (perto do mar ou dum rio).

Um filme: Gato Negro Gato Branco (E. Kusturika).

Uma maravilha: O Val do rio Sor.

Além de galego/a: Açoriano.

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