Daniel Fonterosa: “Dos institutos públicos do Baixo Minho, nenhum tem secção bilingue em Português”

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Daniel Fonterosa, nascido no concelho transfronteiriço de Tominho, é licenciado em Gestão de Empresas pola Universidade de Compostela e trabalha como Técnico de Comércio Internacional  numa empresa galega de nutrição para além de trabalhar no mesmo sector em entes económicos como o Consórcio da Zona Franca de Vigo e o Igape.

Atualmente acaba de apresentar o seu TFM de Professorado (Trabalho de Fim de Mestrado) com o titulo de ‘AS SECCIÓNS BILINGÜES. A VANTAXE DO GALEGO NO COMERCIO INTERNACIONAL’.

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De onde nasce o interesse de Daniel Fonterosa pola língua de Portugal?

Bom, o meu interesse pola língua nasce desde a minha época de ensino universitário.

Ainda que morei toda a minha vida em Amorim, uma paróquia de Tominho, tão perto do país vizinho que da janela do meu quarto podia olhar Portugal, não mostrava especial interesse sobre a língua de Camões. Por que esse facto? Desde criança o ensino não executa ações integradoras com os centros portugueses nem fomenta o uso do idioma português.

No meu caso não foi até que fiz um curso académico na Universidade do Porto que me dei de conta que depois de seis anos de estudos primários e seis de estudos secundários no sistema educativo galego não podia comunicar-me com soltura com os meus colegas de aula e professores. Foi a partir de aí que comecei a estudar português nas escolas de Idiomas do país.

As pessoas que tivemos as primeiras aulas de galego acabámos o ensino obrigatório sem saber que o português estava ao nosso alcance. Mudou alguma cousa a respeito da tua geração?

Infelizmente não. E no meu caso é terrível, devido à proximidade geográfica com Portugal. Por exemplo, dos institutos públicos do Baixo Minho, nenhum tem secção bilingue em Português.

Uma “secção bilingue” é a organização de uma matéria no ensino formal para ser lecionada e cursada polo alunado de maneira bilingue, quer dizer, numa língua estrangeira, alem de em galego ou castelhano. Alem disso, o professorado tem de possuir competência linguística no nível requerido (B2).

Que eu lembrar, somente o IES San Paio de Tui ministrava aulas de língua portuguesa como matéria optativa e de facto para este ano não se lecionou dada a falta de alunos para fazer grupo. Por isso que a publicidade que se tinha que dar sobre a vantagem linguística ao alunado galego é muito baixa nos centros galegos.

No teu trabalho citas os dados do IGE segundo os quais a cidadania galega tem maiores conhecimentos de francês que de português. Surpreendente ou Lamentável?

Os resultados acho que são lógicos. O francês sempre foi uma língua que estivo no ensino obrigatório, de facto até não fai muitos anos o primeiro idioma estrangeiro que se estudava era o francês por diante do inglês.

Polo que não são estranhos estes resultados. O que sim e lamentável é que o crescimento do português no mundo não venha acompanhado de medidas por parte do sistema educativo galego para aproveitar esta sinergia.

De facto, no concurso público de educação de junho não houvo oferta pública de vagas para o corpo educativo em português ,o que não acontece com a língua francesa na qual ofertaram 30 lugares.

Esses mesmo dados mostram que 80% das pessoas que têm algum conhecimento de francês foi por meio do ensino enquanto que o do português foi por meio da sua rede social (amizades, família) em 46%. O papel do ensino obrigatório parece evidente.

Sim ,o francês foi a primeira língua estrangeira obrigatória durante muitos anos, razão pola qual não é estranho alguma parte da população ter maior conhecimento mínimo de francês, inclusive que de inglês. Este é um dado muito importante e que explica a alta percentagem de secções bilingues em francês já que há mais docentes que puderam cumprir os requisitos linguísticos para poderem lecionar esta modalidade bilingue.

O português, polo contrário, no meio em que mais o aprendemos é por estadias no estrangeiro por férias (devido ao fator da proximidade territorial) e sobretudo por meio de familiares, par, amizades. Este é um dato curioso já que aprendemos mais do português na transmissão oral e familiar que no ensino regrado.

O teu trabalho leva por título AS SECCIÓNS BILINGÜES. A VANTAXE DO GALEGO NO COMERCIO INTERNACIONAL. Que te animou a abordar este trabalho de fim de mestrado?

Encontrei um nicho em linhas de investigação no grau de implementação de secções bilingues em português e analisei e a vantagem que tem a língua galega no comercio internacional, sobretudo aplicado a ciclos formativos.

Estas secções bilingues estão enquadradas dentro dos quadros principais da UE de Horizonte 2020 que fomenta para o âmbito educativo, a aquisição de competências linguísticas e o conhecimentos em marketing e comercio internacional.

Isto é um facto muito importante já que o sistema educativo espanhol ensina-nos a ser empregados e não a ser empregadores. O comércio,a aprendizagem de idiomas e o marketing devem estar presentes em todos os âmbitos do ensino.

Segundo as tuas pesquisas, quantas secções bilingues existem nas diferentes línguas. Que podemos abstrair desses dados?

Existem quatro línguas em secções bilingues atualmente na Galiza: Inglês, Francês , Português e Alemão. Ora, o inglês é o que ocupa o primeiro posto do pódio com muita distância. Neste curso académico 2015/2016, das 418 novas secções bilingues aprovadas, praticamente a totalidade são em inglês 410, enquanto que o francês afiança-se como segunda língua preferida com 6 secções bilingues, o português e o alemão somente tiveram uma.

Quais as propostas que achas urgente para aproveitar, de vez, a vantagem competitiva da cidadania galega a respeito do português?

É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objetivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística, um valor que evidencia a importância mundial do idioma oficial de um país vizinho, tendo em conta também o crescente papel de blocos como a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (Brasil, Angola…)

A língua própria da Galiza, polo facto de ser intercompreensível com o português, outorga uma valiosa vantagem competitiva ao alunado galego em muitas vertentes, nomeadamente na cultural mas também na económica. Por isso devemos dotar-nos de métodos formativos e comunicativos que nos permitam desenvolver-nos com naturalidade numa língua que nos é muito próxima e nos concede uma grande projeção internacional.

Como podemos ver, o galego aproxima-nos muito mais com qualquer cidadão de Coimbra ou Luanda e São Paulo que com qualquer cidadão de Múrcia, Andaluza ou as Canárias.

Que teriam a ganhar as pessoas que se incorporam, ou se querem incorporar, ao mercado de trabalho?

As pessoas ganhariam uma vantagem linguística que temos inata. Tanto a Galiza como Portugal possuem um nexo em comum, o idioma, que evidenciam potenciais semelhanças, as quais podem-se aproveitar conjuntamente para criarmos melhores competências linguísticas.

Um incremento das secções bilingues em português no ensino facilitaria, por uma parte, o termos a oportunidade de dominar esta língua, por outra, abrir ao alunado muitas portas no futuro, tanto no âmbito académico como no profissional, já que se eliminaria os obstáculos na comunicação e isto suporia uma ajuda no momento de aceder a mercados laborais mais amplos.

O ensino galego pode e deve ter um papel maior na lusofonia. É necessário que o alunado galego perceba que com o galego, podemos comunicar-nos, não só com os 2 milhões e meio de pessoas que atualmente moram na Galiza, mas também que podemos falar com 250 milhões de pessoas de expressão portuguesa.

Tocaria mudar pouco a pouco a perceção que o alunado tem sobre o nosso idioma.


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