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Tempo

Retomo o diário depois de dez dias de agradável silêncio em terras galegas. Tive tempo para muita coisa. Juan, Tomás, Sílvia, Sara, Carlos, Heitor, Marcos, Pichel, Suso, outro Heitor, os meus pais, a família, a ilha, Cangas, Compostela, Ponte Vedra, a Crunha.

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Volto a Alacant depois de uma viagem acompanhado pela minha tia e os meus primos (Tomás incluído até Madrid) e ligando o computador leio que o tempo é um problema, que tudo tem um fim, tudo se acaba. E não posso evitar pensar, relembrando uma leitura de há muitos anos que nem sequer reconheço, que a eternidade é o sucessivo simultâneo. E penso também então que o tempo não é um problema, que o tempo é, pura e simplesmente. Que não está em nossa mão julgá-lo. E sei por experiência que há muitas formas de vivê-lo e que é apenas aí que está o problema. O problema sou eu que o faço. O problema somos nós que o fazemos.

O sábado foi um dia, por exemplo, de rencontro com Carlos e Heitor, na plena consciência de não voltar a vê-los em muito tempo. Um dia de disfrute, com pequenos traços de tristeza por uma despedida que começava muito antes de ter-nos visto. Traços de eternidade do sucessivo simultâneo, que não impediram que no tempo que tivemos juntos passássemos como se nunca nos tivéssemos separado. Vivemos esse tempo. Vivêmo-lo tão intensamente, que até faltei aos actos da AGAL em Compostela, a que tinha dito que ia para ver outra gente que também quero. Um dia de grande bebedeira, de puracos que não fumo sem eles, de reflexões políticas e filosóficas e de piadas brutas, de comentários machistas "que não saiam daqui", de desabafos de tudo isso que se quer fazer e não se pode porque nem sequer se sabe que se quer, e risas e mais risas, e abraços nostálgicos e alimentar-nos mutuamente o ego, poque nisso consiste confraternizar e estamos entre amigos. Um dia para a história, para a nossa história, poque não temos medo de tê-la. Porque a nossa conciência estava no que dizíamos e não no que nos preocupávamos por não dizer.

Não posso dizer o mesmo de outros dias. Porque houve dias em que me matei realmente por não dizer o que pensava, em favor de um simulacro de convívio. Tentei-o várias vezes, mas não tive a resposta que esperava e deu-me medo manter essa postura todo o tempo. Porque estive contigo, que fazias o mesmo, porque tu e eu nos preocupámos por não sentir demasiado. Porque o adeus e a despedida foi muito antes da despedida, e queríamos tê-lo presente em todo o momento. Sem querer, mas foi assim. Aprofundámos na eternidade, e fizemo-lo de mãos dadas (sem a manga a entorpecer), com imensa dor a assolagar-nos, ainda que não a sentíssemos. Pedimos tempo, mas não quisemos o que tínhamos. E esse é o principal problema.

E não me foge que tudo isto acontece pelo domínio do desejo. Que o que acontece é que os dois desejamos estar juntos. E que daí vêm à memória a dois filmes vistos abraçados, as risas ao ver "Abajo el amor", a sensação de eternidade ao ver "Las Horas", e sobretudo o parque de Bonaval, o mesmo lugar a que anos atrás ia com Ramom a filosofar e ver o pôr-do-sol. Ah! E lembro agora, sim: era o folheto que nos deram no CGAC no concerto de música contemporânea de Lugi Nono: a eternidade é o sucessivo simultâneo. Era na mesma época em que escutava Vinícius e Morais:

(...)Que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.

20- 04 - 2004, intimidades

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