Antom Lopes-Valeiras Sampedro: «Gostaria de fazer uma Esmorga totalmente alternativa para esta sociedade»

Antom Lopes-Valeiras Sampedro: «Gostaria de fazer uma Esmorga totalmente alternativa para esta sociedade»

07-01-2007



Desde já encetamos uma série de entrevistas que visam dar a conhecer as pessoas que fazem parte da Esmorga, começando com um dos seus históricos militantes, Antom Lopes-Valeiras Sampedro, «Antom»

A Esmorga Blogue.- Antom Lopes-Valeiras Sampedro é um jovem compromisso com a luta pela defesa e dignidade da Galiza. Natural da Barca de Barbantes, no Ribeiro, milita na Esmorga desde o momento mesmo em que este projecto cultural deu a andamento. Mais ainda, ele fez parte do grupo impulsionador para a criação de um Centro Social na cidade das Burgas, há já por volta de três anos. Declara-se, sem preconceitos, independentista e todo o seu trabalho activista no passado esteve sempre ligado a organizações vinculadas a esse âmbito. Agora, faz parte activa da Comissão de Agroecologia, Saúde e Meio Natural da Esmorga. Com ele encetamos uma série de entrevistas através das quais tencionamos dar a conhecer um bocadinho mais A Esmorga e o seu corpo social.

Antom, tu fizeste parte do grupo impulsionador da Esmorga, lá pelo verão de 2004. O que é que vos mexeu a dar esse passo naquela altura?

Bom, em primeiro lugar a existência noutros lugares da Galiza de centros sociais, especialmente o da Revolta em Vigo, foi um referente e uma espoleta para nós. Na realidade a ideia nasceu antes de 2004, quando duas ou três pessoas tínhamos falado do assunto, a seguir juntou-se mais pessoal e deu a andamento a iniciativa. Depois, claro, tencionávamos construir um Centro Social que envolvesse muito mais pessoal, aberto e referente do movimento associativo ourensano, embora no núcleo inicial o independentismo tivesse uma presença alargada.

A Auriense não foi em momento nenhum um referente, mesmo que fosse como experiência de um passado associativo glorioso aqui em Ourense?

Sim, é certo. Esqueci nomeá-la talvez por que eu nunca fiz parte dela. Mas é certo que a Auriense deixou um importante pouso, embora naquela altura já praticamente não existisse como associação activa, o único rescaldo que restava daquele impressionante projecto cultural que foi em tempos era o magusto, que foi retomado, precisamente, por volta da nascente e pujante Esmorga.

A Esmorga, pois, na sua concepção primeira não teve uma focalização exclusivamente ourensana, mas voltada para uma perspectiva nacional galega...

Bem, a ideia tinha uma clara perspectiva nacional mas nem só... Claro que visávamos também trabalhar na comarca, de facto era o ponto. Na realidade num primeiro plano colocamos sempre o trabalho comarcal, no dia a dia, e depois num segundo plano a clara referência galega, não isolada mas em interligação com outros projectos voltados para o país. Essa foi a ideia, essa foi a concepção primeira.

E quais os objectivos concretos que vos marcastes desde um primeiro momento, aqui na cidade de Ourense?

Em primeiro lugar, dinamizar o tecido associativo de Ourense, bastante morto. Talvez fosse uma pretensão um bocadinho abstracta, um pouco de manual, mas é claro que visamos desde um primeiro momento, conforme as nossas forças, efectivá-la. Depois, fazermos um Centro Social que se constituísse num espaço de alternativismo real, juntando gente que estava na altura um bocadinho paralisada, sem um trabalho concreto e sem conexão desde havia um certo tempo. De alguma maneira recuperar forças, juntá-las e, a seguir, ampliá-las.

Agora estamos numa nova etapa e num novo Centro Social, mas achas que foram atingidos os objectivos marcados durante os dous primeiros anos da Esmorga, período no qual a sede social foi Cabeça de Maceda, 20?

Eu acho que se conseguiram alguns objectivos, embora não na sua totalidade, coisa bem difícil. Mas foi recuperada para o trabalho associativo gente que estava paralisada, o centro social foi um espaço realmente alternativo, não visto como «mais um bar» e conseguiu-se fazer uma actividade cultural bem interessante. Acho que a percepção geral foi essa, embora os objectivos cada vez fossem maiores e muitos deles ficassem fora do nosso alcanço.

No Centro Social de Cabeça de Maceda, 20, houve momento difíceis. A Operação Castinheira, o precinto da Câmara Municipal...

Bem, eu nunca vi em perigo o projecto. A Operação Catinheira foi, literalmente, um saque acompanhado de uma linguagem desqualificadora e condenadora, mas acho que o pessoal que conhecia A Esmorga sabia bem o que se mexia lá dentro. A respeito da proibição de entrar ordenada pela Câmara e a campanha de defesa e ataque posterior sim é certo que houve muito mais desgaste. Contamos com bastantes apoios, mas talvez abríssemos mais frentes daqueles que podíamos atender... Contudo conseguimos reatar a actividade e que o Centro Social fosse recuperado, embora provisoriamente e com a necessidade de mudar no futuro.

Depois da luta contra a Câmara Municipal surgiu a necessidade de lançar esta nova etapa da Esmorga...

Bem, não sei exactamente quando nasceu o impulsionamento desta nova etapa. Depois do ataque da Câmara tivemos um momento de impasse, uma época de ermo, mas também tínhamos vivido outras com anterioridade, talvez por comodidade. O certo é que essa certa inactividade pôde ter dado lugar ao aceleramento por parte de alguma gente para mudar a situação e abrir uma nova etapa.

E agora já, com esse novo pulo a correr, como vês esta nova etapa e o novo Centro Social?

Como todo o mundo sabe eu não concordo com tudo o que se está a fazer agora. É certo que A Esmorga necessitava uma estrutura organizativa que não tinha, uma das causas, se calhar, da inactividade última, e achei bem o novo sistema de organização por comissões que há agora e que está a correr optimamente. Mas não concordo com a perda de determinado alternativismo por mor da chamada «abertura à sociedade», para mim à sociedade capitalista. Estou-me a referir, por exemplo, à questão da imagem, do marketing... que se consultarmos um ou outro dicionário, seja marxista, fascista, ou do capital, teremos uma ou outra explicação. Acho que hoje, por se manterem as formas, estão-se a deixar de fazer coisas que antes sim se faziam.

No entanto tu continuas a militar no projecto e, portanto, a apoiá-lo...

Sim, continuo. De facto, eu estou a trabalhar muito na Comissão de Agroecologia, Saúde e Meio Natural, hoje voltada para as Jornadas de Agroecologia que estão agendadas entre 11 e 21 de Janeiro próximos, e com a ideia geral de fomentar atitudes e dinâmicas que nos forneçam uma visão saudável da vida, seja nos jogos, na alimentação... Além das Jornadas de Agroecologia, vamos lançar mensalmente, às últimas sextas de cada mês, um dia de lazer alternativo na zona histórica da cidade, e para o futuro temos em mente outra série de actividades que já irão vindo à tona.

Na Comissão de Agroecologia, Saúde e Meio Natural estais a efectivar o trabalho em junção com outra série de colectivos, dinamizando o relacionamento entre associações, não estais?

Neste momento estamos a trabalhar com Verdegaia, com Semente, com Esquerda Unida e com Amigos da Terra, conseguindo com isto impulsionar o tecido associativo da cidade sem por isso ser necessário criar mais «capelinhas». Acho que este é um dos nossos grandes objectivos como Esmorga, fazer do movimento associativo um ponto de encontro e de trabalho conjunto, desde que seja possível e batendo o ponto nas coincidências, é claro.

Antom, imagina que passam mais dois anos... como é que gostarias que fosse para aquela altura a Esmorga?

Pois, gostaria de um Centro Social no qual continuasse a funcionar bem o sistema organizativo, onde houvesse um punhado de gente coeso, sejam 100 sejam 1000, um Centro Social totalmente alternativo, em que se fomentasse o comércio justo, onde a gente encontre respostas às suas inquietações e que estas de cada vez sejam maiores e um Centro Social onde, em momento nenhum, Espanha fosse referente nem objecto de respeito absoluto dentro da Galiza, mas a contrário, mesmo de desrespeito para construir uma outra Galiza.

Escrito ?s 00:46:39 nas castegorias: Associaçom, Entrevistas
por csesmorga   , 1369 palavras, 664 visualizaçons     Chuza!

1 comentário

Comentário de: André [Visitante]  
André

Parabéns pela entrevista. Antom, esperamos-te sempre de braços abertos pelas terras limiãs. Imenso o vosso trabalho. A Aguilhoar sempre estará de vosso lado

07-01-2007 @ 16:14
    A Esmorga somos cada vez mais pessoas que apostamos pelo activismo social e cultural comprometido com a realidade em que vivemos.

    Trabalhamos para promover a língua e a cultura galegas, a sensibilidade para com o meio ambiente e a solidariedade entre as pessoas e os povos.

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